quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sociedade de formas


Pensamos que, às vezes, não restou um só dragão. Não há mais qualquer bravo cavaleiro, nem uma única princesa a passear por florestas encantadas. Pensamos, às vezes, que a nossa era está além das fronteiras, além das aventuras. Julgamos que o destino já passou do horizonte e se foi para sempre. É um prazer estar enganado. Princesas e cavaleiros, encantamentos e dragões, mistério e aventura não existem apenas aqui e agora, mas também continuam a ser tudo o que já existiu neste mundo. No nosso século, só mudaram de roupagem. As aparências tornaram-se tão insidiosas que as princesas e cavaleiros podem esconder-se uns dos outros, podem esconder-se até de si mesmos. Contudo, os mestres da realidade ainda nos encontram, em sonhos, para nos dizerem que nunca perdemos o escudo de que precisamos contra os dragões; que uma descarga de fogo azul nos envolve agora, a fim que possamos mudar o mundo como desejarmos.

“A intuição sussurra a verdade.
Não somos poeira, somos magia.
Fecha os olhos e segue a tua intuição.”

Numa recente conversa com um amigo, falámos de algo interessante e bem verdadeiro. Se dividirmos um ser humano em partes, ou seja, retirarmos a cabeça, o braço, a perna e um orgão, tenho a certeza que cada um de nós, como seres racionais que somos, iria entender que o corpo estaria morto. Ora, se tivessemos um corpo separado em partes (um corpo sem vida) não conseguiriamos entender qual a verdadeira essência do mesmo, entender o seu comportamento, a sua maneira de funcionar, a sua “magia”.
Podemos aplicar este pensamento ao Mundo em si. Ao vivermos uma vida inteira neste fantástico mundo, num país único definido por fronteiras, numa única sociedade com certos valores e tradições, nunca iremos entender a sua verdadeira essência.
Se vivermos uma vida inteira sem amar a mudança, sem estarmos dispostos a conhecer todos os pontos positivos das maravilhosas culturas deste mundo e também de partilharmos a história que cada um tem trazido consigo ao longo deste tempo, não passaremos de meros visitantes neste planeta.
Acreditem que viajar é, sem dúvida, os melhores estudos que podemos ter. A evolução pertence aos aventureiros que não têm medo de naufragar.
Comecemos do princípio.
Ao nascermos numa sociedade num determinado país, no seio de uma determinada cultura e de uma determinada família, tudo o que é ensinado e imposto torna-se natural, simples.
Se nascermos num país desenvolvido, numa sociedade de consumo, onde é esperado que adoptemos um certo padrão de vida social, como ir à escola, licenciarmo-nos numa boa universidade, entre muitos outros aspectos, esse vai-nos parecer o padrão de vida correcto. Tudo o que estiver contra o que está pré-estabelecido vai parecer estranho e errado, pois ao longo da vida foi-nos incutido um determinado padrão de conduta social.
Qualquer pessoa a partir de certa idade se questiona sobre a sua vida, sobre a maneira como a vive, se o que está a fazer é o que a vai levar a ser feliz, a ter sucesso, de que forma se enquadra nesta “sociedade de formas”, até que ponto deverá seguir a sua intuição, enfim poderiamos mencionar uma série de aspectos.
Questionar é bom! Poucos são os que se questionam e começam esta aventura de conhecer o mundo, conhecerem-se a si prórios sem estarem sujeitos a determinada forma social. Poucos são os que têm a coragem de seguir a sua essência humana. Poucos são os que tem a coragem de seguir o seu caminho, por vezes optar por um caminho difícil, mas eventualmente um caminho melhor. Poucos são os que dão oportunidade a si próprios de serem eles mesmos, de serem felizes e de se autorealizarem, por medo do que a sua família, sociedade ou país possa achar.
Certo dia um sábio  disse: “Há um momento na vida de qualquer homem a que se chega a duas opções: Submetermo-nos ou Lutarmos. Lutarmos como homens, determinados a atingir o que pretendemos e quem realmente queremos ser, sem perder tempo com conversas vãs e inação.”
Vivemos numa era de mundanca, de evolução e de globalização, onde toda a gente tem a facilidade de viajar e de experienciar este fantástico mundo. Vivemos numa era onde muitos paises incluindo o nosso (Portugal) passam por tempos dificieis, provenientes de um sistema monetário imperfeito e injusto. Vivemos igualmente numa era de contrastes sociais e culturais gigantescos. Por outro lado, atravessamos uma época de oportunidades para evoluirmos como seres humanos, como sociedades, como países, como um mundo. Não será a mudanca essencial?.
Se os cientistas dizem que o universo é tudo e tudo é o universo, não seremos nós então o Universo? Quem melhor do que nós, que somos o próprio universo para o explicar? Quem melhor do que nós para tentar explicar o que se passa no nosso mundo? Quem melhor que nós para nos explicarmos a nós mesmos e decidir qual o caminho a explorar?
Temos a informação necessária para ser seres humanos evoluídos e vivermos a vida de uma forma responsável.
Melhor, temos as ferramentas necessárias para nos descobrirmos a nós próprios e não sermos persuadidos por falsas ideologias. Se conseguirmos que as ideologias fiquem de parte, teremos uma capacidade ilimitada para absorver e criar, aceitar tudo e todos sem nenhum julgamento.

Numa civilização baseada em ego não e fácil viver em harmonia com o mundo nem sentir a verdadeira relação com a natureza e com o mundo que nos rodeia.
Vivemos numa “sociedade de formas”, uma sociedade onde tudo surge formatado, até mesmo o amor.
Quem não imagina o seu casamento com determinado “formato”? Com uma pessoa de certa “forma”? Num lugar de perfeitíssima “forma”? Tudo está formatado.
Se deixarmos as formas e ideologias para trás, sem dúvida vamos conseguir viver num universo não formatado, pois as formas são como as nuvens, dissolvem-se e depois solvem-se outra vez.
Quando deixarmos de catalogar tudo, quando deixarmos de estar presos à história da nossa vida, ao passado e ao futuro, nesse momento estaremos vivos para o Presente. Tornar-nos-emos pessoas simples sem necessidade de nos sentirmos ou nos identificarmos como pessoas especiais, seremos simplesmente seres vulgares, livres de qualquer tipo de pressão social ou pessoal, a liberdade para sermos nós próprios.

As vozes que nunca parecem parar de sussurrar nas nossas cabeças não passam de vozes de uma sociedade obcecada pela Forma, essa mesma sociedade que pouco sabe sobre as principais dimensões da existência humana, como o espiritual, o mágico, o universo, o mundo não formatado...

Qual é o interesse de conquistar o mundo se nos perdermos a nós próprios?

O momento presente é o portal para uma dimensão “sem formas”, onde o passado e o futuro simplesmente não acontecem. Há pessoas que carregam o fardo do passado e do futuro as costas, na esperança de que um dia tudo faça sentido, ou justificando as suas frustrações como resultado de experiências vividas, mas na verdade a única realidade que existe e sempre existirá é o presente e só o presente, este momento e mais nenhum...
No presente não existe espaço nem tempo, o sol tão pouco se põe, é tudo uma questão de perspectiva do observador, não é quem somos mas o que somos . Por mais longa que a nossa jornada pareça, nunca haverá mais do que isto. Um passo, uma respiração, este preciso segundo, este preciso momento.
Coragem é preciso, a mudança é essencial e a evolução será genial.
Este artigo não tem como objectivo dizer a cada um de vocês o que fazer, mas apela a que cada um seja líder de si próprio, que crie por si próprio, pense por si próprio e que siga a sua jornada sem medo, que siga o seu caminho decidido, que alcance o seu maior objectivo, pois se assim for, sem dúvida, será ser feliz e fará os outros felizes.
Viagem, procurem, experimentem, pensem muito, não pensem às vezes, façam, fiquem, andem, vão, não vão, mas leiam, pesquisem, marquem, embarquem, partilhem, mantenham-se informados, oiçam, não oiçam, perguntem, respondam, ajudem os outros, ajudem-se a si próprios, caminhem... caminhem... e caminhem, sózinhos, acompanhados, com namorado, sem namorada, com amigos, sem amigos, caminhem... caminhem... e caminhem, em lugares de ninguém, em lugares espantosos com alguém, na vossa estrada, numa estrada iluminada e infinita, numa estrada sempre observada pelo sol, vejam, reajam, nao reajam, escutem, apreciem, continuem a caminhar, mais e mais, riam, sejam felizes, facam alguém feliz, chorem, levantem-se, olhem para a frente continuem a caminhar, o momento não está longe, o vosso momento, a estrada é longa, o caminho muitas vezes difícil, mas o sol está sempre lá em cima, ilumina, vão, sejam líderes, criem.. criem... e criem.
Não párem, a jornada, a missão, a aventura, a magia está aqui, agora, no vosso caminho, o caminho para o sucesso e felicidade pode ser difícil se escolhermos o caminho mais fácil, ninguém os pára agora, rápido, devagar, não interessa, interessa, o momento está cada vez mais perto, tentem mais, façam, vão, determinem, naufraguem , experienciem, estudem, leiam, pratiquem, olhem e vejam, oiçam e escutem, toquem e sintam, provem e saboreiem, cheirem e respirem o ar do vosso caminho para que, quando o vosso momento realmente chegar, não terem de escolher entre “isto” ou “aquilo”.
Pura e simplesmente saberão.
Parece sempre impossível antes de o termos feito.


Lourenço Bruschy


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Os 38 anos da Revolução de Abril


Em primeiro lugar queria pedir desculpa aos nossos leitores pelo atraso na colocação deste artigo.
Dado que este texto é referente ao mês de abril, pareceu me incontornável não falar da revolução que surgiu em Portugal no dia 25 de abril de 74, esta revolução resultou de um golpe de Estado militar orquestrado pelo MFA (Movimento das Forças Armadas), que depôs o regime do Estado Novo, vigente desde a constituição de 1933.
Como sabemos Portugal estava envolvido numa guerra colonial bastante contestada e a acrescentar a isto o regime já não gozava da solidez dos tempos do Prof. Salazar, bem como a popularidade de Marcello Caetano (Presidente do conselho de Ministros) já não era a de outros tempos, estes foram alguns dos factores que potenciaram a revolta.
Importa salientar que esta revolução foi feita sem “sangue”, apenas foram destronadas as instituições do regime. Após o golpe foi criada a Junta de Salvação Nacional, responsável pela nomeação do Presidente da República e pelo programa do governo provisório. Assim, a 15 de Maio de 74 o General António Spínola foi nomeado Presidente da República. O cargo de Primeiro-Ministro foi atribuído a Palama Carlos.
Depois seguiram-se períodos muito difíceis, nomeadamente com o conturbado “Verão Quente de 75”, marcado por ocupações, sucessivos governos provisórios e por uma forte agitação social.
Estabilizada a conjuntura politica e social, prosseguiu-se com os trabalhos para a elaboração da nova Constituição da Republica Portuguesa, que viria em 1976 implementar em Portugal um regime democrático que vigora até aos dias de hoje.
Em jeito de conclusão e depois de ter feito uma contextualização histórica, importa na minha opinião tirar algumas conclusões deste acontecimento histórico que já leva trinta e oito anos de existência. Assim não são muitos os dados positivos que podemos tirar da revolução de Abril, pois se por um lado hoje os cidadãos não vêm as suas liberdades restringidas, por outro vêm um país que há trinta e oito anos é abafado por uma corrupção que nos deixou à beira da banca rota, em que a verdade politica não existe, em que a palavra “patriotismo” parece já não constar do nosso dicionário, já não falando da forma infantil e despreocupada como foram entregues as colonias.
Por fim penso que teria sido mais saudável para o país ter sofrido uma evolução em vez de uma revolução, ou seja, deveria ter havido uma transição para a democracia de uma forma planeada e bem estruturada, que passaria no meu entender pela aposta na formação e educação progressiva da nossa população.

António Pedroso